10 de outubro de 2011

   Cinco noites seguidas. Você dormindo de três às cinco da manhã. Muito café. Muitos pensamentos. Muitas palavras. Folhas de caderno sobre a cama. Rabiscadas. Amassadas com toda a dor.
Dor que muitos nunca iram entender e apenas dirão – Drama, depois passa-
Dor essa que a faz tremer inteira, que não tem cobertor nem remédio. Na manhã seguinte tem banho, mais café, mais gente falsa sorrindo. Gente fútil tentando comprar tudo, até você. Tem cálculos que você nunca aprendeu e nem aprenderá. Tem comida gelada no almoço. E depois mais dramas de gente que  liga pra contar a merda, o mico, a transa, o porre, a briga... Liga pra falar qualquer porcaria inútil, mais nunca, nunquinha, só pra saber como foi seu dia. Pela parte da noite tem caminhada de volta pra casa. Pessoas bêbadas. Vento frio. Nostalgia e ela, a dor, volta. Chega em casa e quer vomitar, vomitar porque não aguenta mais essa vida medíocre de cidadã politicamente correta, que come, dorme, se veste, bebe, respira conforme o ritmo do mundo. Conforme o som dessas pessoas que acham que drama, sempre é só drama. Não ligam se dói não ter com quem conversar. Não sabem o que é não ter alguém pra esquentar seus pés no inverno e nem se tem ou não alguém pra beber vodka nas noites de insônia.
Você liga o chuveiro e percebe que a água abafa o som do choro que, já não aguentou ficar preso na garganta. Você quer gritar, secar as lágrimas, pegar um porre, chamar palavrão, se jogar do alto do prédio... Mais ai você lembra que ninguém se importa. Você não se importa. O mundo não se importa. E que nada, absolutamente nada faz sentido além do egoísmo mesquinho das pessoas. Você desliga o chuveiro, anda até o guarda roupa, veste uma camisa comprida, calcinha grande, meias até o joelho. Prepara mais café. Vai até a janela, se encolhe na cadeira, olha pra cima e deseja ser só uma estrela que não depende de ninguém pra brilhar.
Daí, você percebe que o café já não esquenta. Pega a vodka. Olha pra baixo. Respira fundo mais uma vez. Vai pra cama e lembra que amanhã tem cálculos, gramáticas, porres, transas, café e ninguém pra te dar um abraço. E finge que você não odeia essa vida. Finge que você não odeia ser quem é. E espera até o sono chegar (...)

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente."

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